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Birra (?)




Ou sobre como as nossas pequenas bombas relógio devem ser bem menos assustadoras do que parecem.

Quando começamos a falar sobre educação de nossas crianças, um dos temas mais comuns é a "birra". Eu não gosto desse nome, porque acredito que essa palavra carrega em si uma falsa ideia de que a criança está fazendo algo ruim, de propósito, só para contrariar a gente - e não é nada disso.

Crianças são pessoas, por isso têm vontades, impulsos, curiosidades e ficam chateadas quando algo foge ao que desejam, exatamente como nós. A diferença está no fato de ainda não conhecerem o mundo como os adultos, chegaram há pouco e não têm noção dos riscos de suas ações, de quanto determinado comportamento fere regras sociais ou de quais são nossas expectativas em relação a elas.

Junto com essa inexperiência, está a dificuldade de comunicação que é própria de quem ainda não reconhece seus próprios sentimentos nem tem vocabulário suficiente para explicar o turbihão de emoções que emerge diante de uma proibição, uma negativa, uma impossibilidade de ter ou fazer o que se quer.

Se prestarmos atenção ao contexto no qual nosso filho perde o controle, fazendo o exercício de nos colocarmos no seu lugar, fica mais clara a razão de sua resposta descontrolada, o que facilita muito nossa tarefa de lidar com a crise. Essa postura empática é responsável por uma revolução na criação das crianças e é muito bacana, para mim, vivenciar esse momento como mãe e como profissional.

Se, no passado, os pais eram orientados a resolver rapidamente o conflito impondo suas determinações aos filhos pela força, com gritos, palmadas ou castigos, a tendência é nos distanciarmos disso, cada vez mais, para uma educação que reflita o tamanho do amor que sentimos por essas pequenas pessoas, dando todo o respeito que merecem.

A primeira tendência nesse sentido foi conversar amorosamente, mas ainda havia uma falha comum: não respeitar o sentimento dos pequenos. Essa abordagem tentava diminuir o sentimento das crianças e lhes mostrar como não fazia sentido ficar "daquele jeito" usando frases do tipo "mas não há razão para ter medo, eu estou aqui" ou "não precisa chorar, eu lhe faço outro barquinho de papel na hora em que você quiser".

Isso até pode funcionar algumas vezes, com algumas crianças, mas não é difícil que o resultado alcançado seja o oposto do esperado... ainda mais irritação, choro e tristeza. Isso acontece, ao meu ver, por duas razões. A primeira é que o pequeno ainda não tem maturidade suficiente para racionalizar a situação, assim como nós - aí o que dizemos não tem sentido algum, além de não os ajudar. A segunda vem do fato que estamos passando a ideia de que não enxergamos o quanto aquilo é importante para eles, como se estivéssemos minimizando ou ridicularizando a situação (coisa que não faríamos com outro adulto).

Evoluímos, ainda bem, para um momento em que um "eu compreendo seu sentimento, mas..." ou um "venha cá, entendo que sinta pelo barquinho que rasgou, mas podemos fazer outro". Essa diferença de abordagem deriva de estudos que comprovam a importância de compreender que a criança enxerga as situações por outro prisma, que questões que nos parecem pequenas têm outra importância em seu universo como, também, de identificar os seus sentimentos (dando a eles seus devidos nomes).

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